AE Lourinhã

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Enquadramento Histórico da Lourinhã

Na Lourinhã, encontram-se vestígios arqueológicos variados, com registos de ocupação desde o Paleolítico.

Antes da ocupação Romana e posteriormente Árabe, este território foi ocupado por Iberos e Celtas, tendo existido também contatos com Fenícios, Gregos e Cartagineses.

A origem do nome – Lourinhã – provém do latim Laurus, que significa loureiro. Esta planta está mesmo representada na heráldica da povoação.

O primeiro foral foi concedido por D. Afonso Henriques, tendo D. Manuel outorgado um novo foral em 1512.

A vila teve uma franca expansão demográfica durante o século XIX e, de forma notória, durante o século XX.

Nos dias de hoje, continuam a ter destaque as atividades ligadas ao mar e ao cultivo da terra, assumindo ambas uma grande importância na economia da região.

 

Época Pré-romana

Desde o Paleolítico que encontramos vestígios da presença do homem no território da Lourinhã. Ao longo da costa, as formações plistocénicas existentes, constituídas por níveis de arenitos consolidados e abundantes calhaus rolados de quartzito, terão fornecido o material que viria a ser utilizado posteriormente pelos primeiros homens oriundos do Norte de África e que alcançaram as costas mediterrânicas e atlânticas. Os primeiros testemunhos destes nómadas caçadores foram encontrados na orla costeira, na Praia da Areia Branca, Valmitão, Porto das Barcas e Outeiro do Seixo. Alguns instrumentos líticos integram o espólio arqueológico paleolítico do Museu da Lourinhã.

As principais jazidas do Holocénico inicial identificadas no litoral da Lourinhã estão localizadas em Vale Frades e em Toledo. O conteúdo arqueológico destas jazidas dá-nos algumas indicações sobre as primeiras comunidades de caçadores-recoletores. Estas comunidades humanas, provavelmente organizadas em pequenos grupos, onde a mobilidade era fundamental, baseavam a sua subsistência na exploração de vários tipos de recursos, entre os quais se destacavam os aquáticos, que assumem pela primeira vez um papel importante. Nos espólios, estão presentes restos faunísticos, nomeadamente, moluscos bivalves, relacionados com um sistema de subsistência baseado na exploração do ambiente marinho. O Oceano Atlântico em fase de transgressão pós-glaciar terá contribuído para o aparecimento de ambientes de transição estuarinos, viabilizando a exploração de novos nichos ecológicos por parte dos caçadores-recoletores do Mesolítico. Nos depósitos de concheiro de Vale Frades e Toledo, foram encontrados moluscos de espécies litorais e estuarinas, como o mexilhão e o berbigão.

Do Neolítico, chegam-nos também os achados dispersos de Porto Dinheiro, da estação de ar livre do Casal Labrusque e da Gruta da Feteira, onde foi encontrado mobiliário funerário, material lítico e de cerâmica lisa e decorada, assim como peças de colar, em concha e em osso. Do Calcolítico, foram recolhidos ossos humanos e artefactos da Fossa de Paimogo. No Tholos de Paimogo, um túmulo coletivo, foram encontrados alguns utensílios de sílex e contas de calcário.

Posteriormente, este território será ocupado pelos Iberos e Celtas, tendo existido contactos com Fenícios, Gregos e Cartagineses.

 

Época Romana

Por volta do ano 220 a.C., com a chegada dos Romanos e a expulsão dos Cartagineses da Península Ibérica, inicia-se a romanização. Na Lourinhã, não se encontraram muitos vestígios arqueológicos deste período, mas a sua presença é atestada pela toponímica de algumas aldeias bem como pela persistência de algumas lendas.

No século V, com a invasão dos Bárbaros, ocorre a divisão das terras conquistadas. Com a fragmentação da parte urbana das vilas, surgiram vários aglomerados populacionais, entre eles, a Lourinhã, nome que lhe terá advindo da proximidade à Quinta do Lourim. Há mesmo quem afirme que “é povoação antiquíssima, talvez do tempo dos romanos, e com certeza dos árabes”. Esta afirmação é atestada pela existência de um escudo de armas existente nos Paços do Concelho onde se vê uma flor-de-lis e um crescente, o que parece indicar que a povoação foi tomada aos mouros por um fidalgo francês.

Embora não haja unanimidade entre os historiadores relativamente ao topónimo da Lourinhã, admite-se que, na sua origem, esteja o topónimo latino Laurus, que significa loureiro, ou terra onde existem loureiros, árvore que terá sido muito abundante na região e que ainda hoje se encontra no Toxofal  e na mata da Quinta da Moita Longa.  Posteriormente, ter-lhe-á sido aditado o sufixo anum, o qual significa área agrária, e que deu origem à palavra Laurinianum. O Loureiro está representado na heráldica da Lourinhã e nas pedras de armas medievais da Igreja de Santa Maria do Castelo.

 

Do século XII até ao século XV

De facto, a Lourinhã torna-se senhorio com a concessão do primeiro foral por D. Afonso Henriques a D. Jordão em 1160, que terá povoado a vila de cristãos. Este fidalgo francês, que integrou a Segunda Cruzada à Terra Santa, seria assim recompensado pela sua colaboração na conquista de Lisboa aos mouros.

O foral é um documento que se distingue pela barbaridade dos castigos infligidos aos prevaricadores. Diz o foral: “O matador, se se puder prender, seja sepultado vivo, e o morto lançado em cima dele”. A concessão deste foral à Lourinhã instituiu a Paróquia e o próprio Concelho. A Paróquia de Santa Maria da Lourinhã, posteriormente designada Nossa Senhora da Anunciação, terá sido uma das mais ricas da Diocese de Lisboa e de todo o país, como o atesta a Relação de Todas as Igrejas do reinado de D. Dinis.

No primeiro foral da Lourinhã, constata-se que a agricultura era a principal atividade dos seus habitantes, que cultivavam hortas, pomares, searas e vinhas. Contudo, a atividade piscatória surge referida neste documento: “Se um vizinho da Lourinhã andar por mar ou por terra no termo da Lourinhã e aí encontrar pescado ou outra qualquer sem dono, tenha tudo em paz”. Na Carta de Doação da Vila da Lourinhã a Gonçalo Vasques de Azevedo, do ano de 1367, D. Fernando outorga a este seu vassalo todos os termos e territórios desta vila bem como todas as suas pertenças, entre as quais constam as “pescarias”.

Porto de mar de grande importância em toda a Idade Média, quer a nível económico quer estratégico, a Lourinhã seria local de passagem, por mar e por terra, de comerciantes, guerreiros e de peregrinos a caminho de Santiago de Compostela. A dimensão e a importância arquitetónica da Igreja de Santa Maria do Castelo, cuja construção terá tido início no século XII são consequência dessa passagem. Esta igreja foi edificada junto aos muros do Castelo, que fora construído no local designado por Monte, lugar estratégico para a defesa da vila dos ataques dos corsários mouros que subiam o Rio Grande, navegável muito para montante da vila, para roubar as colheitas dos campos de várzea.

D. João I concede o senhorio da Lourinhã a D. Lourenço Vicente, Arcebispo de Braga, doação confirmada em 1385, como recompensa pelo apoio dispensado nas guerras com Castela. Este Senhor da Lourinhã mandou reedificar a Igreja de Santa Maria do Castelo, em estilo gótico e datada da segunda metade do século XIV.

Após a morte de D. Lourenço, a vila é doada ao Doutor João das Regras, amigo e servidor de D. João I, por Carta de Doação datada de 1396.

O Foral Novo da Lourinhã, outorgado em 1512, no reinado de D. Manuel, dá-nos a conhecer alguns aspetos relacionados com as atividades económicas praticadas na região. Se a agricultura continuava a ter um papel preponderante na economia da região, outras atividades como a pesca e a construção de navios pareciam também elas assumir algum protagonismo.

O desenvolvimento da indústria naval, em plena época dos Descobrimentos, terá contribuído para a destruição de grande parte do coberto florestal da região, que apresentava uma extensão considerável e de natureza diversificada. Em algumas cartas régias do século XV, faz-se referência às matas reais de Óbidos e Lourinhã.

 

Do século XVI até ao século XIX

Outros testemunhos atestam a importância do Concelho, nomeadamente, a criação da Igreja da Misericórdia no final do século XVI. Na verdade, a 14 de março de 1499, D. Manuel recomenda aos seus juízes, vereadores, procuradores, fidalgos, cavaleiros e homens bons a criação de misericórdias em todas as cidades, vilas e lugares principais do Reino.

O Forte de Paimogo, marco de referência na defesa do território nacional, construído em 1674 no reinado de D. Afonso VI, era parte integrante da Linha Defensiva da Costa Portuguesa, que começava na Praça Forte de Peniche e se estendia até ao Forte de S. Francisco de Xabregas, em Lisboa. A 20 de agosto de 1808, aquando do desembarque na foz do Rio Grande dos soldados ingleses da Brigada de Auckland, que viriam a participar no dia seguinte na Batalha do Vimeiro ,o forte ainda se encontrava ativo. Terá terminado a sua missão como fortificação militar marítima no séc. XIX, no final da guerra civil entre liberais e absolutistas. Este forte foi construído junto ao Porto de Paimogo, cujas condições de abrigo não eram favoráveis, como confirma a Carta de Doação do Porto de Paimogo de D. Manuel a Diogo Cardoso em 1500: “Fazemos saber que Diogo Cardoso, cavaleiro da nossa casa e Alcaide da Atouguia, nos disse agora como no termo da Lourinhã está um porto de mar que se chama Paimogão, o qual não rende quase nada por ser muito fragoso, pedindo-nos que porquanto ele tinha aí uma terra junto com o dito porto que lhe fizessemos dele mercê…quando aí vinham batéis de fora rendia por ano mil a dois mil réis e que havia dois anos que não rendia nada por aí não virem batéis e ser costa brava”.

Nos finais do séc. XIX, a principal atividade económica do Concelho continua a ser a agricultura (cereais, legumes e fruta), havendo também abundância de caça. A pesca é ainda um recurso importante, sendo, muitas vezes, complementar. A vila da Lourinhã apresentava então sinais claros de crescimento demográfico: se em meados do século XVIII tinha apenas 150 fogos, pouco mais de um século depois, o número de fogos cresce para 800. Era então uma das principais povoações do distrito de Lisboa.

 

Do século XX até à atualidade

Desde o início do séc. XX, assiste-se a uma crescente procura do litoral da região, onde numerosas potencialidades dão corpo à sua ocupação. A acessibilidade, facilitada por uma rede viária em expansão, a par de outras infraestruturas, têm vindo a viabilizar o desenvolvimento do Concelho, intensificando o contraste existente entre o litoral e o interior, que se expressa não só ao nível da paisagem, mas também no que se refere às atividades económicas. O interior, com uma área agrícola que ocupa cerca de 80% do território concelhio, evidencia a importância da agricultura na economia da região da Lourinhã que, entretanto, terá evoluído de um regime de auto-subsistência para um regime de exploração agro-pecuário vocacionado para o mercado externo. Com efeito, a predominância do cultivo da terra tem vindo a alterar-se com o aumento crescente do setor da pecuária, nomeadamente, da suinicultura e da avicultura.

Na área litoral do Concelho, continuam a ter destaque as atividades ligadas ao mar. Os recursos marinhos costeiros permitiram o desenvolvimento de várias atividades associadas à sua exploração, desde a pesca profissional à pesca artesanal, passando pela recolha de espécies deixadas a descoberto na maré baixa. A crise de abastecimento gerada pela Segunda Guerra Mundial conduziu a que esta prática se intensificasse, complementando a alimentação dos autóctones e servindo, muitas vezes, de moeda de troca para a aquisição de outros bens de subsistência. A atividade da apanha, com uma tradição local importante e de cariz fortemente familiar, não se circunscreve unicamente às comunidades mais próximas do litoral, mas também é desenvolvida pelos habitantes das localidades mais interiores do Concelho. Sobretudo na época estival, assiste-se a um aumento significativo de apanhadores, muitas vezes, provenientes de zonas não concelhias, que conduzem inevitavelmente a picos de pressão sobre o meio marinho e sobre as espécies-alvo. Entre as espécies mais capturadas, encontram-se a navalheira, o percebe, o mexilhão,  as lapas, o ouriço-do-mar, o polvo e o camarão branco. De igual forma, as algas têm sido objeto de captura, nomeadamente, a localmente designada por Limo de Seda, outrora muito abundante na região. Atualmente, só é capturada na época de verão por apanha submarina. Também a localmente designada por Limo de Correia foi largamente utilizada pelos agricultores da região, juntamente com outras algas, para a fertilização dos solos.

A atividade piscatória a nível concelhio tem atualmente uma expressão económica relativa, só ganhando importância no contexto regional, uma vez que a descarga do pescado é feita no porto de Peniche, principal centro piscatório da região e um dos maiores portos de pesca do país.

Em Paimogo, Porto Dinheiro e Porto das Barcas ainda laboram pequenas embarcações, principalmente durante os meses de verão. Pesca-se com redes de emalhar e de enredar fundeadas, aparelhos de anzol, covos, toneiras, cerco e arrasto. Em Paimogo, existe um varadouro, a sul dos antigos viveiros, para apoio de um pequeno número de embarcações de pesca artesanal local.

A já referida melhoria das acessibilidades viárias, facilitada pela proximidade da capital, originou o incremento do turismo balnear, preferencialmente nas praias de Porto das Barcas, Peralta e Praia da Areia Branca. Efetivamente, veio a verificar-se um crescente aumento dos aglomerados urbanos, situados na proximidade da faixa costeira, de tal modo que conduziu à ocupação de áreas de risco e de elevado potencial turístico, paisagístico e ambiental.

AGRUPAMENTO DE ECOLAS DA LOURINHÃ

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